O programa que Jordi Savall (direcção e viola da gamba) e três músicos do Hespérion XXI, invocando o Jardim das Hespérides, trazem a estes outros Jardins da Quinta das Lágrimas promete-nos uma incandescente sucessão de “encontros”, o tema deste Festival das Artes QuebraJazz.

O núcleo estruturante é desde logo a folia, a dança popular de origem portuguesa que, assimilada pelo repertório polifónico ibérico do Renascimento, viria, na sua ligação constitutiva com o discurso das variações ornamentais em ostinato, a beneficiar de uma luminosa posteridade (posteridade que encontra o seu momento culminante no Barroco… mas que chega a Liszt e Rachmaninov).

O percurso do concerto começa de resto por alguns exemplos eloquentes da assimilação inicial (incluindo um indispensável excerto do Trattado de glosas de Diego Ortiz).

O que se segue é, porém, já iluminado pelo fogo dos encontros com outros “mundos”: encontro da música ibérica com outras tradições (a herança sefardita, as práticas ameríndias, a componente africana, a tradição inglesa), mas também encontro da folia com outras danças (as canarias, a morisca ou perra mora, a guaracha do México, a cachua do Perú).

Dois dos momentos memoráveis tê-los-emos decerto nos excertos do Codex de Trujillo e nas esplendorosas glosas Todo el mundo en general de Francisco Correa de Arauxo.

Com o apoio do Departament de Cultura de la Generalitat de Catalunya e do consorcio Institut Ramon Llull