Os Encontros de 2025

A pintura por Giovanni di Paolo – um detalhe da sua obra “Giudizio Universale” exposta na Pinacoteca Nazionale di Siena – brilha no centro do cartaz do 16º Festival das Artes QuebraJazz, que em 2025 celebra os Encontros, e foi gentilmente cedida pelos Musei Nazionali di Siena e pelo Ministero della Cultura de Itália.
Como se exprime o encontro? Qual é a alegria do reencontro? Basta parar um quarto de hora nas chegadas do aeroporto para assistirmos à efusão de alegria de quem se reencontra por vezes depois de muito tempo de separação. O encontro exprime-se com o corpo e deve ser um gesto tão antigo como a humanidade, um grito, um estender dos braços, uma corrida e um lançar-se nos braços do outro, apertando-o com os nossos braços.
Nunca tínhamos sentido tão fortemente esta palavra Encontro como quando olhámos para a pintura de Giovanni di Paolo´ Giudizio Universale em Siena. No século XV este pintor imaginou a chegada ao Céu e o encontro de amigos que haviam estado separados pela morte. Pinta os Encontros de toda a sorte de pessoas e fá-lo num cenário de paraíso, entre flores et árvores de fruto, numa pintura que exala alegria autêntica. Usamos neste festival de Encontros a imagem que vêem e que nos toca por conhecermos, como todos vós, a alegria do sentimento do encontro. As orquestras que chegarão ao Festival vão-se encontrar para tocar e essa também deve ser uma infinita alegria para os artistas, a de se encontrarem juntos para fazer música.
Segue-se o primeiro encontro de quatro músicos de exceção, Aaron Parks, Peter Evans, João Barradas e Stéphanne Galland. O acordeonista e compositor português encontra-se com três músicos internacionais para um momento de alta criatividade na noite de 16 de Julho.
A obra de Duke Ellington, “Black, Brown and Beige” de 1943, que foi uma ousada tentativa do compositor de modificar preconceitos sobre raça, de levar o jazz americano ao encontro da música clássica europeia e de desafiar a América reencontrar os seus princípios fundadores de liberdade e igualdade para todos, é o ponto de encontro de Selma Uamusse com a Orquestra Hot Clube no dia 17 de Julho
Dois encontros serão manifestos no concerto de dia 18 de Julho em que a Orquestra de Cascais e Oeiras vai tocar musica de Tchaikovsky e de Mozart num subtil encontro entre o compositor russo do século XIX e Mozart. A intenção de Tchaikovsky com a serenata para cordas ( Op. 47) que vamos ouvir, era homenagear Mozart e os Mestres clássicos da primeira escola de Viena. Mas no construir desse concerto temos também um encontro de maestros. O Andrew Swinerton, inglês que preparou os músicos vai encontrar a Maestrina Nishimoto, japonesa que irá dirigir a orquestra e não precisarão de falar pois o encontro deles é através da linguagem universal da música.
O concerto na Capela da Universidade a 19 de Julho recria o encontro de 4 jovens japoneses com a música renascentista europeia. Um concerto itinerante dirigido pela maestra Tomomi Nishimoto e o agrupamento Illuminart. A viagem da Embaixada Tensho formada pelos quatro jovens cristãos ao encontro do Papa, é o ponto de partida para um concerto inédito que reaviva uma das mais fascinantes histórias que unem Portugal ao Japão. Os quatro jovens estiveram em Coimbra em 1585 e ao celebrar, 440 anos deste encontro musical entre o Ocidente e o extremo Oriente outros 4 jovens de hoje irão a interpretar música de Palestrina do cancioneiro de Elvas. Passaram 20 dias em Coimbra, passaram por Santarém, Tomar, tocaram musica no órgão de Évora e brincaram com o jovem duque de Bragança em Vila Viçosa, numa viagem que ficou registada por Luís Fróis, missionário português que registou as primeiras impressões europeias da vida e da cultura no Japão. A 16 no Museu do Oriente, Lisboa a 19 Jul na Capela da Universidade de Coimbra, a 20 no Cineteatro Florbela Espanca em Vila Viçosa e a 21 na Igreja do Espírito Santo em Évora
São sempre inesquecíveis os encontros de orquestras jovens no anfiteatro. Uma de Lisboa clássica a outra de Coimbra Jazz. Duas orquestras jovens em Coimbra no dia 20 de julho. É sempre bom que se encontrem os jovens no anfiteatro da Quinta das Lágrimas.
Dia 21 é a noite de Luís de Matos e nada sabemos do que vai apresentar … A surpresa é ainda maior e cá estaremos para um encontro mágico.
Há encontros que beneficiam muito ambas as partes e chamamos-lhes parcerias. Este ano juntámo-nos com O Festival de Óbidos para apresentar o pianista Jun Kanno e Tokiwazu Mozibei. O Concerto é um encontro entre o Ocidente e o Oriente, o Piano e Shamisen, um instrumento de cordas japonês. Irão interpretar W. A. Mozart, C. Debussy, S. Rachmaninov e o encontro entre São Francisco d’Assis e aos pássaros que Lizt nos fez chegar. Haverá também compositores japoneses estreando o nosso palco na noite de 22
Na noite de 23 vamos ao Fado. 100 anos de Carlos Paredes no 21º aniversário da sua partida, um espetáculo com dez músicos em palco, um encontro com Carlos Paredes e aquilo que transmitiu aos músicos de hoje. Carlos Paredes da intimidade, das confidências e de algumas histórias vividas, que serão partilhadas em sua memória.
A presença de Jordi Savall no dia 24 aqui em Coimbra é para nós um encontro muito desejado desde o primeiro dia do Festival em 2009. E o programa que Jordi Savall criou é uma incandescente sucessão de “encontros”. A história é-nos contada por José Manuel Aroso Linhares; a folia, é uma dança popular de origem portuguesa que foi assimilada pelos compositores ibéricos da Polifonia Renascimento. Jordi Savall integrou sabiamente no seu programa de dia 24 o resultado dos encontros da música ibérica com as culturas encontradas no mundo descoberto do Renascimento e a folia fez o seu caminho com outras danças as canarias, a morisca , a guaracha do México, a cachua do Perú. Dois dos momentos esperado serão os excertos do Codex de Trujillo e as glosas que anunciam um encontro global: Todo el mundo en general de Francisco Correa de Arauxo.
Depois passamos para as escadas do Quebra Costas com um espetáculo semanal de Jazz até ao fim de Agosto. Vivemos neste momento a antecipação desses encontros e a alegria, nos encontrarmos todos em breve a iniciar o Festival das Artes Quebra Jazz pela 16º vez.
Um agradecimento muito sentido a todos os nossos patrocinadores e muito especialmente
à Câmara Municipal de Coimbra e ao Hotel Quinta das Lágrimas.
Cristina Castel-Branco
Directora do 16º Festival das Artes QuebraJazz
Maio de 2025